terça-feira, 20 de maio de 2014

A SOLIDÃO

A maternidade é uma transformação louca, um turbilhão. Ela impõe novas prioridades, provoca novos medos, novas ansiedades, é tudo tão novo, tão intenso q acho que acaba sobrando bem pouco da pessoa de antes. E isso resvala todas as relações da vida né. É comum ver casais que não conseguem mais se entender, amigos que se afastam, amigos que se aproximam, trabalhos que são trocados, interesses que se desfazem, famílias que se reconectam, famílias que se desconectam...

Mas é isso aí! É duro, exige da mulher encarar um vendaval de sentimentos e encontrar seu novo ponto de equilíbrio, e depois de um tempo, com mais ou menos dificuldade, maiores ou menores consequências, tudo entra inevitavelmente nos novos eixos e a vida retoma seu ritmo novo. No meu caso, depois de ter me desligado de um emprego de 10 anos e com o qual me identificava muito, passando a trabalhar menos e em casa, acho que a experiência mais inesperada foi a solidão... Como assim essa sensação de sozinha e essa tendência a só se preocupar com o neném...  

Essa fase inicial da maternidade, acho q pelo menos até o 1º ano, é muito solitária... É lindo, um amor louco, um vício, uma devoção, mas também é muita função, muita atenção. A criança ainda está construindo seu ritmo biológico, ainda tem várias restrições alimentares, não anda, não fala... e isso acaba exigindo um bom tempo dedicado à ela. Quando Alice era bebê, depois que eu botava ela pra dormir, eu já estava exausta e dormia também. Nisso o marido estava em outro turno, amigos acho que só conseguia ver final de semana; os dias iam passando e o mundo infantil e a rotina doméstica se expandiam na minha rotina, os papos divertidos de barzinho, de noitada, aquelas trocas ricas de pessoa adulta e independente foram ficando pro Facebook... Mas o tempo passa, Alice foi crescendo, ganhando maior autonomia, a creche/ escola entraram em cena e aos poucos fui reconstruindo minha nova vida.

Daí que qdo eu estava pra ter o Eric, já tinha parado pra pensar sobre essa coisa da solidão e refleti q estaria melhor preparada, é uma fase que já sei q passa. Mas eis a vida... O segundo filho nos mostra, ou melhor colocando, Eric vive me mostrando como eu confundo experiência com expectativa... me pego novamente triste com a minha solidão... 9 da noite parece meia noite... silêncio, televisão sozinha... amigos só por telefone e FB. E me peguei achando que ninguém lembra que eu existo, com a sensação de que só eu estou sozinha, putz, tudo de novo! Que saco!

Sei que passa, mas enquanto não passa demora! Bom, pelo menos dessa vez, acho que sei identificar os canais pra lidar com isso. Preciso encarar eventos de adulto que me fazem feliz! E foi nessa esteira que aconteceu um choppinho só com amigas seguido de evento na Fundição Progresso... fiquei sorrindo a semana inteira ;). Foi tão importante! Mas ao mesmo tempo, é tão difícil fazer o movimento... vencer o cansaço, o apego ao bebê, a rotina da casa que tb não está acostumada a essa nova postura... Mas ali percebi que dá pra ir uma vez ou outra e que o bem que me faz, faz também muito bem pro entorno familiar.  #ficaadica

SURPRESA!!

LL ia fazer 40. Está numa fase criativa de vida, é super social, se amarra nos amigos à volta, adora recebê-los em casa, adora festas, sonhou fazer uma super comemoração de 40! Mas ... a perda repentina do pai há 2 meses roubou-lhe o ânimo. O 1º de abril ia se aproximando e ele nem tocava no assunto. Quem o conhece sabe que isso é zero o perfil do LL. Resolvi que o melhor presente que eu poderia dar pra ele era ter os amigos juntos. J Já viu, né!

Uma semana antes, combinei com a cunhada de usarmos a casa dela. Os dias seguintes foram de planejar, chamar os amigos e reservei a 6ª feira pra executar.

A 6ª feira começou às 7 da manhã dentro da piscina, rá! Porque agora sou uma pessoa que nada 2x por semana JJJ. Dali fui tomar café com a mãe e a irmã e segui de bike pra comprar tinta. É que minha casa está com obra e tinha que levar a tinta pro pintor...

Muito bem. Em casa, a checada de emails rendeu mais tempo no computador revisando o trabalho de ontem e só comecei a executar o plano quase na hora do almoço. Encomendei bebidas, gelo e uma quiche de cebola – tudo pra entregar. A torta, a prima vai levar! O pão de miga vou ter que buscar. Ok, é aqui perto. Roubei 4 garrafas de vinho da adega dele, almocei revisando a lista do supermercado e acabei decidindo experimentar um mercado novo. Putz, que escolha infeliz, não encontrei metade dos itens da lista e tive que parar em outro lugar antes de seguir pra deixar tudo na casa da cunhada. A essa altura, pelo trânsito e pela hora, recorri à minha mãe: pegar (e pagar) o pão de miga e ir pra minha casa render a babá que estava com o Eric e precisava ir embora. Da casa da Keila, deixei o carro em casa e fui buscar a Alice na escola. Uf! Tudo encaminhado

À noite, antes de chegar em casa, LL liga “Amor, queria tomar um vinho hoje!”. Putz... ele vai reparar! Pra tentar disfarçar o desfalque, me apropriei da bagunça da obra e deixei o bar e a adega atravancados com cadeiras e caixas fora do lugar. Funcionou. Quando ele chegou o acesso ao bar estava tão ruim, que ele abriu rapidinho, deve ter pego qualquer garrafa e saiu dali rapidamente. Hehe. Ponto!

No sábado, acionei um amigo pra ocupá-lo enquanto eu ia pra casa da cunhada terminar de arrumar a festa. Avisei que precisava ir lá e que iria com as crianças, sugeri que ele me buscasse mais tarde. Sem falar muito o que eu ia fazer, ele também não perguntou e foi isso. Depois do almoço, fiz uma mochila com roupinhas, fraldas e pomada, brinquedinhos, comida e leite pro Eric, separei as caixas do pão de miga, uma bolsa com maquiagem e muda de roupa pra mim e pra Alice. MEGA carregada, pedi pra minha irmã me levar na casa da cunhada. 

Yeah! Tudo certo! Tudo lindo, ele não desconfiava de absolutamente nada, arrumamos tudo numa boa, as crianças mega ajudaram, ficaram super bem! As 19h os amigos começaram a chegar. Lá pras 20h, pouco antes, ele liga: ‘E aí? Qual vai ser?’ ‘Pode vir, sobe!’ ‘To com o Michel’ ‘Traz ele, o Eric acabou de dormir, a Alice está ótima com as primas, tem uns amigos da Keila aqui vem com ele a gente toma uma cervejinha... vira um programa de sábado!’

Bingo! Com bebê em casa, qualquer cerveja na varanda vira night. Foi só correr pro abraço e pro parabéns!


Quando ele abriu a porta: ‘Parabéns pra você...’ Foi lindo! Olhos arregalados como se não estivesse vendo direito. TODOS os amigos ali! Ele ficou mudo e, o que é bem raro, emocionado, discretas lágrimas enxugadas do rosto. Foi LINDO!!!!!