segunda-feira, 17 de março de 2014

RELATO DO PARTO

Era 3ª feira, de manhãzinha, fui ao banheiro. Xixi era ligeiramente escurecido... passei o dia mais ansiosa, achei q a barriga contraia com mais frequência q o normal, e era mais desconfortável q o habitual.

Há dias Alice andava super agarrada e querendo-mamãe, mais q o normal. A babá percebeu e chegou a comentar 'criança sente... o Eric deve estar vindo' isso foi na 6a feira; achei q dificilmente chegaríamos ao final da semana seguinte.

No final da tarde daquela 3ª feira, Alice chegou da escola e foi logo beijando e abraçando a barriga. E disse 'Ele falou que ele quer sair.' Naquele momento, sabia que tinha chegado a hora. De madrugada acordei com as primeiras contrações e Eric nasceu dois dias depois.

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Eu fui atrás e consegui. Eric nasceu sem que eu tivesse tomado nenhuma ‘droga’, nem anestesia nem oxitocina. Doeu PRACARALH... mas tudo passa instantaneamente e aí, é só baby!

Tudo começou quando ouvi da Mabi sua experiência com a Lorena, que nasceu em casa. Achei louco mas incrível... ela contou um pouco sobre os cuidados que teve para o parto, da banheira em casa, a preparação durante a gestação... nunca achei ela louca ou radical, talvez por isso eu tenha ouvido com mais abertura. Meses depois, eu nem grávida estava, falei rapidamente com a pediatra da Alice sobre a experiência incrível da Mabi e, que surpresa, recebi apoio e vários conselhos, sendo o principal, que eu precisaria trocar de obstetra se eu quisesse algo parecido. Armazenei aquela informação e não toquei mais no assunto.

Fiquei grávida acho que um ano depois. Lembrei do conselho de trocar de médico, mas acho que no fundo eu não acreditava que poderia realmente fazer diferença, eu confiava de verdade no meu obstetra, ele foi hiper atencioso e paciente no parto da Alice, era um cara hiper calmo, competente e nunca me deixou sem retorno ou insegura sobre o que quer que fosse. Sempre me senti cuidada, assistida e confiante. Tá lindo, não está?

Assim, as semanas iam passando e a vida corrida ia me deixando no caminho conhecido e seguro – muito mais fácil ne. Só que meu inconsciente trabalhou e não me deixou ficar sem falar com a Mabi... eu já estava na semana 18 ou 20 quando a conversa com ela bateu! Ela já tinha falado da Diana, já tinha me sugerido fontes de informação... e eu, nada. Dessa vez ela me deu o telefone da Diana ‘conversa com ela, só ouve’. Fiquei a semana toda olhando pro número... dias depois encontrei a pediatra e comentei que planejava  falar com uma doula bla-bla-bla. E ela, ‘quem é? A Diana?’, ‘É’, ‘Ela é ótima, liga pra ela! A gente trabalha junto direto, você está muito bem assistida, mas vai ter que mudar de médico’. Foi um apoio muito importante. Liguei pra Diana, nos encontramos, ela me passou o contato de uma obstetra e eu me matriculei na aula de ioga. Pronto! A partir dali já fui me envolvendo com aquelas informações, com aquela tribo de mulheres cheias de garra e totalmente empoderadas de suas gestações. Os encontros com outras mulheres para trocas de experiências e expectativas faziam muito sentido e mantinham um clima de cumplicidade que era impossível ficar no meio do caminho. Ou se integra ou se afasta. Eu me entreguei.
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Na madrugada em que acordei com as primeiras contrações, Diana me orientou a me manter calma e me examinaria pela manhã. Sem dilatação, esperamos a evolução. O dia passou tranquilo, as contrações se tornaram mais suportáveis, encerrei assuntos de trabalho, fui caminhar com o marido pelo bairro. A família um pouco ansiosa tentava não pressionar e Alice já tinha ido da escola direto pra casa da cunhada. A madrugada foi de descanso total. Mas de manhã...

Por volta de 10h comecei a liberar líquido... a bolsa tinha estourado, eu andava e molhava o chão. Tomei um chuveiro quente (era inverno, o que fazia o banho ainda melhor) e aliviava muito a pressão que eu sentia. Como a Diana previu, a dor das contrações entraram então em nova ‘fase’ e não me permitiam mais sorrir e conversar normalmente. Era o TP iniciando. Ela chegou em casa por volta das 12h, 2 cm de dilatação. Lembrei dos 2 cm do parto da Alice, tive medo daquela ‘estação’. Mas a verdade é que não tive mais nem chance de lembrar disso de novo, eu estava entrando num estágio em que não conseguia realmente prestar atenção em mais nada do que acontecia a minha volta, é um transe conhecido como ‘partolândia’, naquela hora eram só eu e a Diana, no meu quarto, muitos panos, muito líquido. Ela me levou ao banho novamente e voltamos pra cama, meu foco eram as contrações e a dor, e aí eu já começava a urrar. Eu urrava junto com a contração e quando cessava, quase dormia. Lembro de ter dito em algum momento ‘Eu não quero que o nenem nasça em casa’. Diana me ajudava a buscar e trocar de posição. Impossível precisar quanto tempo se passou quando ao me examinar ela informou ‘5 cm vamos pro hospital’. E eu ‘Como??! Não vou conseguihhhhhrrrrrrr’. Ela me deu um pano longo, que coloquei em volta da cintura, na altura do quadril e quando a contração vinha eu parava de caminhar e agarrava o pano puxando-o com as duas mãos pra baixo na direção do chão... e assim fui caminhando até o carro.

No caminho, era 20 de junho de 2013, a agitação popular nas ruas gritava do lado de fora e eu berrava de dor do lado de dentro do carro. Mas felizmente, o trânsito até Laranjeiras estava tranquilo e chegamos rápido. Cheguei aos berros, não há falta de vaga que freie atendimento a uma mulher berrando em TP. Fui direto pra uma salinha onde encontrei a médica Dra. Fernanda e a pediatra-amiga a também Dra. Fernanda. Eu já estava na fase chamada expulsiva e foi quando o marido entrou em ação. Foi nele que eu me apoiei pra fazer força pra expulsar o Erikito. Num determinado momento, fomos pra uma sala maior que costumo descrever como uma sala de brinquedos... tinham cordas penduradas, bancos, cadeiras, luzes estavam apagadas, e uma banquetinha azul vazada que percebi na hora que seria ali. O marido se sentou atrás de mim me abraçando, e eu me apoiei nos braços dele enquanto fazia força sentada na banqueta. Foram várias forças ali. Achei que uma vez que o neném começasse a sair, pronto ele sozinho ‘cairia’, mas não, tive que fazer muita força até o fim! E pra mim foi quando mais doeu! Até que... o choro! Alívio! Sento no chão! Nenenzinho todo melecadinho pequenininho no colo! Querendo abrir o olhinho! Cabeludo, cabeludo... O choro! Meu! Do Marido! ‘E agora, o que eu faço?’ lembro de ter falado... Eric ainda com o cordão umbilical ligado a mim, já foi se direcionando pro peito! Incrível!! As meninas (rs, a obstetra, a pediatra e a doula) deram pro marido cortar o cordão, e comemoramos...


Eric ficou ali no meu colo, mamou de prima, mãozinha no peito, olhinho já abertinho, só saiu de perto de mim na hora de irmos pro quarto, e não nos desgrudamos mais até hoje, nove meses depois.  

Antes do carnaval

Depois do parto do Eric passei a prestar mais atenção nas histórias de parto alheias – de amigas, de conhecidas, desconhecidas... Eric nasceu de parto natural (normal e sem anestesia) bem na época do filme ‘O Renascimento do Parto’ e isso deu certa 'publicizada' na minha história. Na época e até uns 3 meses depois contei muitas vezes e pra muitas pessoas como tinha sido minha experiência como um todo. Depois disso e até hoje, de vez em quando amigas me ligam pedindo indicações e referências. Acho ótimo e super do tamanho. E dessa forma não fico cutucando mães e grávidas com um assunto íntimo como esse e que costuma gerar algum desconforto.
                                                              
Dito isso quero colocar duas coisas. Uma é que depois do Eric, se tornou impressionantemente claro pra mim como os médicos conduzem o fim da gestação de uma forma q a gestante absolutamente não se dá conta. É nítida a falta de espaço pra gestação se concluir por si própria. Em muitos casos ao menor sinal de evolução ou estagnação na fase final da gestação – antes do trabalho de parto (TP) – o médico já encaminha a cesárea, dá uma série de motivos, diz que deve-se evitar qualquer intercorrência, esperas demoradas (pra ele naturalmente) e, docemente, ele propõe, 'Vamos marcar? Se não nascer até lá, tudo bem, você já está na semana X, está tudo bem com o neném, não convém esperar mais’. Na hora, ansiosa, cansada, muitas vezes inchada, ‘Claro, tá ótimo!’, diz a gestante feliz, aliviada e confiante. Eu me pergunto, não convém a quem esperar?? Ao neném que não é! Existe um ciclo aí que é natural e que é interrompido. Isso sem falar de histórias mau-caráter que já ouvi de médico que 'erra' a contagem das semanas pra cesárea ser mais 'garantida'. Credo! Enfim... 

A outra coisa é a seguinte. Toda mãe de bebê ou criança pequena vive a situação pentelha de figuras aleatórias q passam pela rua e resolvem se intrometer no q estamos fazendo ou não com a criança – tipo 'olha, ele está babando!', 'moça, o pescocinho dela está todo torto', 'não segura ele assim, não!', 'ih! Tá chorando!', ‘oh, tá dormindo!’, ou como um amigo pai de gêmeos uma vez contou 'ih, são iguais?'. Ô saco! Tento não dar bola mas sou fraca... sou sempre fofa. Por outro lado, descobri nessa situação uma ótima oportunidade pra eu botar pra fora minha indignação com essa imposição do ‘sistema’ por cesáreas marcadas. Aquelas que resolvem resolvem contar q fulana vai ter neném amanhã ou q ciclana vai ser vovó semana que vem, ah, não me faço desconhecida, 'mas amanhã? Como vc sabe?','Já marcou!’, ‘Marcou? Mas por quê?? Aconteceu alguma coisa?' Recentemente a resposta tem sido 'pra fugir do carnaval'.


Percebeu né?